Hoje vivemos uma revolução no mundo das comunicações. Temos acesso rápido e fácil aos mais diversos conteúdos. Isso sem dúvida alguma é muito bom, mas temos que saber usar. Como tudo na vida, o excesso pode causar mais prejuízo que benefícios. A internet é a força motriz dessa fonte inesgotável de informação que nos bombardeia diariamente, e a maior parte dela sem dúvida alguma é fornecida pelas redes sociais ou por avançadas técnicas de marketing de vendas como “fishing”, etc.
Não existe nada de errado em “dar um google” e pesquisar sobre um determinado assunto que nos interesse, como um tratamento estético, um médico, etc. A minha recomendação é que a pesquisa não se limite a isso, mas seja a complementação de uma tradicional busca por referências, indicações de terceiros, complemento de uma consulta médica ou coisa do tipo. Use a pesquisa na internet apenas como uma fonte a mais de informação. Nada supera a indicação de uma paciente satisfeita, de um colega médico de confiança. A internet é “terra-de-ninguém”. Na internet se publica o que se quiser; se impulsiona o que se pagar e avançadas técnicas de venda podem te fazer acreditar em resoluções milagrosas para os seus problemas.
É super comum recebermos mensagens em nossas redes sociais ou mesmo ligações atendidas pela recepcionista da nossa clínica onde a paciente liga interessada apenas em saber se na nossa clínica temos o aparelho recém lançado que ela viu em uma publicação que promete resultados “milagrosos” e que vai ser a coqueluche do verão até a indústria lançar o próximo “queridinho do momento”. Essa paciente não quer mais saber de ser atendida por um profissional que se qualificou e que vai indicar a melhor opção de tratamento para o seu caso. Ela quer apenas pagar pelo tratamento que a mídia a fez acreditar que é o melhor para ela. Uma total inversão de juízo de valores. Ela é levada a acreditar que não precisa mais consultar um médico, que a resolução de seu problema só é possível com determinado aparelho, independente de outras tecnologias, opções terapêuticas, valores e resultados. Ela já se diagnosticou, definiu o tratamento e apenas procura um local que tenha o aparelho que vai resolver o problema dela. É realmente lamentável.
Nós aqui citamos o caso de um aparelho, mas poderíamos também analisar a nova relação de consumo que as mídias sociais estabeleceram entre os pacientes e os profissionais liberais. Estamos vendo uma exposição exagerada e desnecessária onde todos querem ser “celebridades” e ficam postando e compartilhando momentos de sua privacidade, muitas vezes se expondo a determinadas situações questionáveis para gerar “engajamento”. Eu particularmente acredito que esta não seja a forma ideal de se procurar um profissional para um tratamento médico. Me faz refletir sobre o que leva um paciente a procurar um profissional por esse tipo de postura.
Outro tema que merece uma reflexão é que muitas pacientes ao serem atendidas querem indicar a técnica cirúrgica mais apropriada para o seu caso. Eu não vejo isso com bons olhos. Acredito que a escolha da técnica cirúrgica seja atributo exclusivo do cirurgião, dependendo de qual opção lhe seja mais afeita e que o paciente deva participar desta decisão sim, mas não com a propriedade que acredita ter pelo conhecimento que publicações leigas lhe conferiram.
Me preocupo com a influência que celebridades exercem em seus seguidores. Não sei até que ponto o pico de casos de síndrome ASIA não pode ser causado pela repercussão de um caso em uma digital influencer. Não que eu esteja subestimando o problema, o que eu não quero é que as pessoas o superestimem por um “efeito manada”, pelo simples poder que as influenciadoras digitais exercem sobre boa parte de suas seguidoras.
O assunto é muito vasto e merece muita reflexão a respeito. O recado que eu quero deixar é escolha bem e confie no seu médico. A internet, em especial as redes sócias, são ferramentas fenomenais desde que se sabia usá-las corretamente, mas elas nunca vão substituir uma boa consulta médica.